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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Cinema e história: socialismo, capitalismo e os ideais (revolucionários ou não) de felicidade

O cinema alemão tem investido cada vez mais nas temáticas sócio-revolucionárias, recheadas de críticas ácidas tanto ao capitalismo quanto ao socialismo. Além disso, tais enfoques buscam debater também sobre a quebra e mudança de valores, paradigmas e ideais de igualdade na sociedade contemporânea.  Antes de listar alguns deles aqui, é preciso abrir um parênteses sobre qual socialismo e capitalismo as películas retratam. Primeiro, é preciso se ater que aquele socialismo defendido por tantos e tantos jovens nos anos de 1970/80 não se concretizou, uma vez que a política violenta de Stalin desiludiu e castrou as liberdades pessoais de grande parte dessa geração. Dessa forma, os filmes que irei abordar buscam, justamente, apontar severas críticas a política socialista-stalinista e a abertura da Alemanha Oriental ao capitalismo. Quanto ao capitalismo, é preciso lembrar que esse, naquele momento, se encontrava em seu estágio de reconstrução, ainda muito longe do poder e influência que alcançou hoje, graças as práticas políticas que, de certa forma, incentivaram esse processo, como o neoliberalismo. 
Ao pensar nesse post, uma indagação me surgiu: quando pensamos em duas propostas políticas e econômicas tão antagônicas como o socialismo e o capitalismo, qual é a fronteira que delimita o que, de fato, é conservador e o que é revolucionário? Se vivemos num regime mediado pelo capital, aqueles que assim o defendem, dessa forma, são os conservadores. Mas se vivessemos numa época baseada em alguns dos princípios do socialismo, os socialistas seriam assim os conservadores? Ou seja, o conceito de conservadorismo, por exemplo, é inócuo, vazio, oco e de nada serve, pois, ao final, ele sempre jogará ao lado de quem está ganhando...

Enfim, ironias a parte... Durante a apreciação crítica dessas obras busquei, a todo instante, evitar certos anacronismos não só temporal, mas também ideológicos. Porém, isso não implica no fato que você, caro leitor, não possa ter uma visão diferente da minha, aliás, isso somente enriqueceria ainda mais o debate. Sendo assim, esteja a vontade para fazer qualquer objeção que achar necessária...

Vamos aos filmes...


Cronologicamente, Adeus Lenin! (Good Bye Lenin!), realizado em 2003, estréia o bloco de filmes inteligentes, bem construídos e historicamente datados na Alemanha Oriental e nos bastidores da queda do Muro de Berlim. A película navega entre o drama e a comédia, já que seu enredo é conduzido com uma sutileza humorística digna de nota. Afinal, me pergunto: Como o adolescente Alexander poderia contar para sua mãe que todos os ideais que ela tanto acreditara caíra por terra, juntamente com o muro de Berlim, enquanto esteve em coma? Nesse sentido, Alex passa a criar, para a mãe, uma ficção da Alemanha Oriental de outrora, essa que já começava a sinalizar positivamente para o capitalismo, por meio de bandeiras e outdoors de grandes empresas, como a Coca-cola. E é nessa busca incessante de Alex por produtos, roupas, acessórios dos tempos idos que o riso é proporcionado, no esforço do jovem em preservar sua mãe de emoções fortes que pudessem abalar seu fraco coração. O filme possui uma trilha sonora excelente e a trama, como já ressaltei, muito bem conduzida e trabalhada, proporcionando ao telespectador a reflexão sobre as mudanças sociais - de comportamentos, hábitos, enfim - provocadas pela queda do Muro de Berlim, essa que simbolicamente retratou a entrada da Alemanha Oriental na "sociedade do espetáculo" incentivada pelo consumismo oriundo do capitalismo.
  
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Em 2004, surge no universo cinematográfico Os educadores, (The Edukators). Daniel Bruhl aparece agora personificado como Jan (e não mais como Alexander de Adeus Lenin!), um jovem idealista que realiza protestos pacíficos com seu velho amigo Peter e, mais tarde, com a bela Jule. Auxiliados pela profissão de Peter - instalador de alarmes - os amigos iniciam uma série de invasões de domicílio cujo intuito principal é provocar medo, ou melhor, mostrar que mesmo em meio a tanto dinheiro, essas pessoas não ficam imunes a insegurança. Para tanto, esses educadores do mundo contemporâneo criam frases de efeito, como Seus dias de fartura estão contados. O belo e interessante dessa produção concentra-se nos diálogos empregados por meio de dois discursos antagônicos - um revolucionário e outro conservador - ou melhor, o dos três jovens e o do senhor raptado em uma das invasões que fracassou. Nessas conversas podemos identificar os velhos e ainda fracos argumentos que muitos ainda utilizam para defender um ideal, tipo "Eu paguei por tudo que tenho" ou então, do outro lado, "as crianças asiáticas trabalham como escravas para que pessoas como você tenha um carro como esse" e por aí vai. Porém, no decorrer da cena, em meio a tanto confronto, os dois grupos fornecem uma trégua um a outro, proporcionando que seus interlocutores passam a ser, dessa forma, mais ouvidos. Assim, os dois grupos, gradualmente, começam a perceber que há muito mais nos outros do que possam imaginar, questão essa que é evidenciada na cena na qual o senhor se identifica, em partes, com algumas ambições idealistas dos jovens. O final não é tão previsível assim como se pode imaginar...

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Para finalizar, não menos importante é o belíssimo A vida dos outros (Das lebens der anderen), de 2006. De forma similar ao Adeus Lênin, a trama também se concentrará na Berlim Oriental pré e pós-queda do Muro de Berlim. Porém, a atenção agora concentra-se na Stasi, a polícia secreta da antiga Alemanha Oriental, essa que mantinha uma política agressiva de fiscalização e perseguição a todo e qualquer cidadão que se opusesse ou criticasse o Grande Irmão, ou melhor, o regime em vigor. Um dos pontos altos desse filme é abordagem sobre as práticas de corrupção que se fizeram presentes no regime socialista, essas que, embora privilegiassem, de certa forma, o Grande Irmão, também eram empregadas com o fim de obter benefícios particulares e individuais. Além disso, outro ponto auge é a amostra do lado humanitário desse regime marcado por censuras, perseguições, torturas e mortes. Aqui, o grande destaque é a atuação brilhante do capitão da Stasi, Gerd Wiesler (Ulrich Mühe), quando recebe a missão de vigiar e investigar o casal Georg Dreyman (Sebastian Koch), importante dramaturgo e sua namorada Christa-Maria Sieland (Martina Gedeck), famosa atriz de teatro. A partir daí o filme é envolvido por um clima de suspense a la Hitchcook, já que Wiesler começa a se envolver cada vez mais com o romance e dia-a-dia do casal. Não apenas como policial, mas também como voyer, Wiesler se esforça para cumprir sua missão e, ao mesmo tempo, saciar suas curiosidades pessoais sobre a vida do casal.



Para baixar é só clicar no link do filme.

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7 comentários:

  1. Post legal.Sugestões muito boas. (Eita alemães eim,haha).
    Critica massa...ja havia pensado, comigo mesmo, algo do tipo um tempo atrás. Como o termo convervador vem de "conservar" algo ou alguma situação, sim, seriam os socialistas convervadores num sistema de igualdade entre os pares. Por sua vez,os revolucionários os "capitalistas". HAHA. Quanta ironia. "Revolucionários", realmente, um termo muito vazio...

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  2. Pois é, pois é... meros conceitos, que olhando de perto não exprimem nenhum sentido substancial, mas que a todo instante são jogados aqui e ali, sobretudo, na mídia, buscando imprimir para as pessoas o significado que desejam disso... mas acho que isso já é outra história, rs!

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  3. Eu já tinha assistido os dois primeiros e não conhecia ainda o (A Vida dos Outros), mostra como precisamos conhecer a verdadeira face da Alemanha Oriental antes de levantarmos bandeiras em prol do socialismo.
    Parabéns pelo Blog... Muito Bom!!!

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  4. Valeu Professor, volte e comente sempre que quiser aqui no blog!

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  5. Que sequência! Adeus Lenin, assisti na facul, é um filme que mostra bem o lado oriental alemão e sua agruras...muito bem feito, fotografia 10 e figurino 10. Edukators! é mais moderninho, mas a temática é a mesma a política, muito bem feito também e diferente das produções cotidianas cinematográficas. A vida dos outros vou baixar para assistir, recebeu boas críticas, mas a melhor crítica quem faz e vc mesmo qdo assiste...rs desde já agradeço e parabenizo pelo blog...abraços

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  6. ah só para constar valeria a pena colocar na sequência o filme A Onda.....abraços

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  7. Valeu o comentário e a indicação. Já ouvi falar de A Onda, vou assistir e, se possível, incluir na sequência. Dê sua opinião sobre A vida dos outros, afinal é um filme quase desconhecido, mas muito bom...

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